Cambodja: em busca dos templos perdidos

My little Buddha

Na nossa mente há uma mística inexplicável associada a Angkor Wat. Este templo, símbolo do Cambodja, é considerado como a “maior estrutura religiosa já construída e um dos tesouros arqueológicos mais importantes do mundo”. 

Chegámos a Siemp Reap ávidos por explorar o extenso complexo de templos de Angkor; tarefa que se revelou um desafio imenso devido ao calor seco e sufocante que se fazia sentir. 

À chegada ao aeroporto fomos recebidos por dois tuc-tucs que nos levaram para o hotel. O nosso corpo desidratava rapidamente e apenas no quarto, com o ar condicionado ligado, encontrámos algum conforto. 

Dad had to go alone in one tuc-tuc in order to carry all the bags

O nosso hotel, o Hello Cambodia Boutique , servia um pequeno-almoço fantástico à la carte: panquecas, french toasts ou croissants regados com um delicioso maple syrup (que nos fez voltar por momentos aos EUA e ao Canadá). No roof top a piscina com vista para a cidade proporcionou muitos momentos refrescantes.

Inicialmente pensámos em ficar apenas alguns dias, mas depois de 9 meses em viagem atingimos aquilo que entre os viajantes é vulgarmente designado por travel burnout, ou seja, o nosso espírito aventureiro e explorador tinha sido domado pelo cansaço das múltiplas deslocações, o desconforto da mudança quase diária de colchão, as saudades da família e dos amigos, a falta dos cheiros e dos sabores familiares…

Abrandámos o ritmo. Assentámos arraiais durante duas semanas em Siem Reap e resolvemos conhecer a cidade e os templos com alguma calma. Assim, o resto do Cambodja ficou por conhecer, mas ganhámos alguma sanidade mental. 

Começámos por visitar a fábrica dos Artisans de Angkor. Uma experiência verdadeiramente interessante para as crianças que aprenderam mais sobre o ciclo da seda e a importância desta matéria-prima ao longo da história mundial.  

Learning how silk is made at Artisans d’Angkor

O parque arqueológico de Angkor oferece dois trilhos de exploração: o pequeno circuito e o grande circuito. Devido à distância entre os diferentes templos é praticamente impossível realizar os percursos a pé. Optámos por fazê-lo de tuc-tuc. 

O Pequeno e o Grande Circuito

Realizámos o percurso no sentido inverso ao habitual na tentativa de evitar as multidões, particularmente de chineses, que invadem os templos durante todo o ano. 

Assim, o primeiro local que visitámos logo ao início da manhã estava deserto. Éramos os únicos caminhantes em Srah Srang, um reservatório de água escavado em meados do século X envolto numa arquitetura magnífica onde criaturas parecidas com pássaros, as Garudas, montam Nagas de 7 cabeças. Estas respresentações são abundantes por todo o complexo. 

Garuda & 7 headed Naga

Do outro lado do reservatório ergue-se Banteay Kdei. Apesar da deterioração evidente causada pela utilização de rocha calcária de fraca qualidade, este templo budista foi utilizado pelos monges até cerca de 1960 e está agora a sofrer intervenções de recuperação. 

Próxima paragem: Ta Prohm – este templo ganhou popularidade por ter sido usado como cenário do filme Lara Croft. É praticamente impossível visitar devido à enchente de turistas. No entanto, é realmente impressionante observar a fusão da natureza com a arquitetura humana, numa viagem pós-apocalíptica a um mundo um dia foi habitado pelo homem mas que a Natureza implacavelmente reconquista. Contudo, apesar de marcadamente presente em Ta Prohm, este sentimento é transversal a praticamente todo o complexo de Angkor. 

Seguimos para o templo inacabado de Ta Keo. Em formato de pirâmide com cinco torres (quincunx), ressalta pela falta de decorações exteriores. Diz a lenda que o templo foi atingido por um relâmpago, interpretado como sinal de mau presságio e a partir daí a construção foi interrompida.

Entrámos no perímetro da cidade pelo Victory Gate e chegámos ao incrível Angkor Thom ou Bayon Temple (ou Templo das Caras Sorridentes). Os rostos cravados na pedra parecem perseguir-nos. É impressionante e indescritível!

Smiling faces at Bayon Temple

Entretanto o corpo já pedia descanso. Bebíamos água como camelos, mas o sol não dava tréguas. A obra-prima de Angkor ficaria para outro dia.

Angkor Wat é o elemento central de todo o complexo de templos. A experiência de assistir ao nascer ou por-do-sol em Angkor Wat é habitualmente um must-see. No entanto, é sabido que milhares de pessoas se juntam diariamente para estes eventos  reduzindo significativamente a sua visibilidade e obrigando a uma logística que dificilmente seria viável com três crianças. 

Angkor Wat é majestoso e imponente, com os seus claustros e galerias, relevos cravados na pedra com detalhes impressionantes e as cinco torres representadas na bandeira do país que tornaram a esta obra-prima da arquitetura Khmer no símbolo do Cambodja. Caminhar ao longo do gigantesco perímetro, junto dos monges budistas com as suas vestes laranja e olhar sereno, entre paredes com séculos de história leva-nos numa inevitável viagem de introspeção e reflexão.

Não sendo uma paragem habitual para os turistas, não quisemos deixar de visitar o Museu de Minas Terrestres. Recomendamos vivamente este local que nos ensina a aprender com a história. Uma lição que nunca caia no esquecimento das gerações vindouras.

O museu fica a caminho de outro templo muito pouco visitado, mas que foi um dos nossos favoritos: Banteay Srei. Tínhamos o espaço praticamente só para nós. 

As gravuras na pedra abundam. As esculturas escoltam-nos pelos corredores. Caminhamos num túnel do tempo.

Kids playing Star Wars at the temples

Outro templo esquecido e muito pouco falado é a pirâmide de Koh Ker. De contornos semelhantes à famosa Chichen Itza, mas em avançado estado de deterioração, lamentamos que não lhe seja dada a devida importância e que permaneça fora do roteiro da maior parte dos visitantes. 

Mom & Dad at Koh Ker

O nosso menino comemorou o seu sétimo aniversário no Cambodja. Foram momentos fantásticos de celebração na companhia de jovens portugueses que se encontravam no mesmo hotel. 

Apesar de todo o cansaço e de momentos extenuantes, o sol do Cambodja brilhará eternamente nas nossas memórias. 

“I’ve got a great ambition: to die of exhaustion rather than of boredom”